ALERTA DE SPOILER
A Culpa é das Estrelas, adaptação
cinematográfica do aclamado livro homônimo de John Green, teve estreia com
salas lotadas... de pré-adolescentes. A (triste) história de um casal
adolescente que sofre com o câncer emociona mais na leitura do que no cinema.
Diferente do que o filme propõe, o livro de John Green não é direcionado
essencialmente para o público adolescente. A obra trata com muito mais peso e
seriedade temas como a doença e a morte do que o longa-metragem deixa
transparecer. A começar pelo subtítulo do filme: “A Culpa é das Estrelas - Doentes
de Amor”. Para quem achou que foi ideia dos brasileiros, se enganou, pois o
título original é “The Fault in Our Stars
– One Sick Love Story”. Na tentativa de amenizar a temática pesada do
livro, o subtítulo causou polêmica tanto aqui quanto nos EUA, pelo seu humor
negro.
Outro fator
para a infantilização da obra foi a escolha dos atores, Shailene Woodley e
Ansel Elgort, que interpretam Hazel e Gus. Ambos têm estado presentes na mídia
nos últimos meses, especialmente como ídolos teen. Shailene, apesar de ter
feito memoráveis aparições em produções dramáticas anteriormente - como em Os
Descendentes, em que contracena com George Clooney -, rendeu-se à trilogia
infanto-juvenil Divergente (2014). De qualquer forma, a atriz não deixa a
desejar em sua atuação como Hazel e é bem parecida com a descrição física que o
livro traz.
Já Elgort, que
despontou na refilmagem de Carrie – A Estranha (2013) e contracena com Woodley
em Divergente, não cabe para o papel de Augustus Waters. Sua atuação melhorou
desde o seu primeiro papel de destaque, no ano passado – Elgort tem o hábito de
fazer “biquinho” em frente às câmeras. Em A Culpa é das Estrelas, podemos ver
menos boca e mais presença do ator na tela. Ainda assim, a cena em que Gus
chora em Amsterdã tem um “quê” de cômica. No entanto, isso não impediu que o
ator causasse “gritinhos” da plateia. De resto, convenhamos que o Gus de John
Green é bem mais estiloso do que o ator conseguiu transmitir. Os coadjuvantes
não chamam muita atenção, exceto por Willem Dafoe, que rouba a cena como o escritor alcoólatra Peter Van Houten, fazendo o espectador ir da revolta à pena do
personagem.
Os
protagonistas de John Green são adolescentes que estão sempre por fora da moda,
não curtem música pop e gostam de refletir sobre como alguns infinitos são
maiores que outros. Hazel, em uma das cenas, usa uma camiseta da banda Pink
Floyd. Em outra, sua roupa estampa uma obra de Magritte, e o All Star tem
presença constante. Apesar de no livro haver referenciais que fogem à cultura
pop, a trilha sonora da produção é essencial e quase inteiramente de músicas
voltadas para os adolescentes.
Porém, apesar
de certos aspectos, o filme apresenta pontos altos, se comparado à obra
literária. São eles: o jeito como Gus sorri e coloca o cigarro entre os dentes;
o primeiro beijo, na casa de Anne Frank; a “primeira vez”, que possui um caráter
cômico e meigo, ao mesmo tempo; o surto de Isaac no quarto de Waters, assim como
o momento em que ele joga ovos no carro de Monica; o clássico discurso sobre os
infinitos, pronunciado por Hazel; e por último, mas não menos importante, a
cena do restaurante em Amsterdã, na qual Gus declara estar apaixonado por
Hazel.
O final do
filme é menos misterioso que o do livro: na obra, não fica claro se Hazel vive,
nem por quanto tempo. Já no longa, a narração da personagem dá a entender que
se passaram alguns anos até ela contar sua história com Gus. A Culpa é das
Estrelas é uma adaptação rica em detalhes do livro em que é baseada, mas peca
na proposta inicial do autor John Green, que, inclusive, teve sua participação
cortada do filme. Assim como a obra, a produção arranca lágrimas do espectador,
mas não na dimensão de emoção que a leitura transmite.
Texto produzido por Bruna Maury e Deborah Novais.
Minhas expectativas nunca estiveram muito altas pro filme, porque eu sempre achei que a história funcionava melhor no livro (diferente de um Jogos Vorazes, por exemplo). Meu medo era de que se tornasse mais um filme adolescente sem nenhum diferencial - até porque o próprio livro do John, embora se destaque por ser consideravelmente realista e "cru", beira em muitos momentos o lugar-comum. No entanto, fui surpreendido com uma chuva de críticas positivas, inclusive de gente próxima a mim, e, como era de se esperar minha expectativa cresceu bastante. A crítica de vocês, contudo, pareceu bem sóbria e, se eu bem me conheço, provavelmente vou compartilhar da mesma opinião. A começar pelo Augustus que nunca me convenceu e que parece ter sido escolhido mais por conveniência - mas não duvido que ele atue bem e a cena do cigarro ficou bacana mesmo (agora, hábito de fazer “biquinho” em frente às câmeras... sério?). Quanto à Shailene, não a vi em Os Descendentes ou em Divergente, apenas em The Spectacular Now, e a considero uma boa atriz (embora tenha achado um pouco estranho ela protagonizar duas adaptações para adolescentes quase na mesma época).
ResponderExcluirFico satisfeito que os "pontos altos" correspondam às principais cenas do livro, e eu realmente aposto na boa escolha da trilha sonora desse tipo de filme (assim como foi em As Vantagens de Ser Invisível).
Bom, só me resta agora conferir também!
P.S.: Gente, esse subtítulo... ainda não me conformo. John Green aprovou isso? Duvido.
P.S.2: O gif final é a cena final? Touching.